terça-feira, 13 de maio de 2014


Para entender melhor este contrassenso!

http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia/546615/com-um-pe-no-atraso

Assedio Moral 

Com um pé no atraso

O século 19 permanece presente na desumanidade das políticas de metas, que extrapolam a capacidade física, mental e emocional dos funcionários

O setor bancário no Brasil tem um pé no século 21 mas o outro, desafortunadamente, ainda está atolado no século 19. O século 21, todos sabem, foi conquistado com um investimento maciço em tecnologias de ponta que possibilitaram transformar o computador doméstico e até o celular em agências bancárias em miniatura, eliminando deslocamentos e filas para pagar contas, obter extratos, fazer transferências e uma série de outras operações hoje possíveis de ser realizadas on-line, com apenas alguns cliques e uma senha. 

O século 19 permanece presente na desumanidade das políticas de metas, que extrapolam a capacidade física, mental e emocional dos funcionários, estimulam a prática do assédio moral por parte das chefias e fazem da categoria dos bancários uma das mais sujeitas a problemas de saúde decorrentes de estresse. Está presente, também, na insistência com que se procura economizar recursos humanos nos poucos serviços presenciais ainda existentes, e no desprezo pela segurança dos usuários dos serviços de autoatendimento. 

O avanço tecnológico, a imposição de exigências extenuantes para os funcionários e as deficiências do atendimento presencial podem parecer incongruentes, mas há razões para crer que eles são expressões de uma mesma cultura empresarial. No centro de tudo está a busca incansável pela redução de custos, que, combinada com uma agressividade exacerbada na atração de contas e venda de serviços, tem permitido aos grandes bancos obter uma lucratividade mais alta que a outros setores, mesmo num cenário de desaquecimento econômico. 

Não vai, nessas observações, nenhum preconceito contra o lucro. Entende-se perfeitamente que a busca de melhores resultados é um imperativo para toda empresa, e mais ainda num segmento competitivo como o bancário. Naturalmente, as pessoas que atuam nessa área devem ser perseverantes, criativas e possuir uma vocação natural para enfrentar desafios. E, naturalmente, uma das preocupações permanentes das empresas será obter produtividade máxima dos empregados -- o famoso "fazer mais com menos". 

O problema é que, na busca do lucro e da produtividade, algumas empresas estão ultrapassando a fronteira entre o moral e o imoral, o humano e o desumano, o legal e o ilegal. Denúncias de assédio moral contra funcionários (em geral, pressões psicológicas, cobranças agressivas ou humilhações para forçá-los a bater metas) têm sido constantes. Por vezes, o gerente responsável pelos abusos é demitido, mas, como informa o sindicato da categoria, nem sempre o banco reprova esse tipo de chefia. Há os que são valorizados por sua rudeza. 

Se as coisas não vão bem internamente, externamente também deixam a desejar. Nos últimos dias, deficiências exasperantes relacionadas ao atendimento foram noticiadas por este jornal. Bancos que se recusam a receber boletos de outros bancos, mesmo que ainda não estejam vencidos, e falta de vigilância nos postos de autoatendimento, permitindo que ladrões instalem dispositivos para roubar o dinheiro dos correntistas nos caixas eletrônicos, estão entre os problemas relatados pelos clientes. Mas há outros. No ranking de reclamações do Banco Central, as principais queixas são por débitos e tarifas não autorizados ou contratados. 

Os bancos cumprem um papel indispensável no mundo atual, e têm muitos méritos na forma como conseguiram simplificar a realização de tarefas, facilitando a vida de pessoas físicas e empresas. Nem por isso, entretanto, estão autorizados a pairar acima das leis, no que concerne ao respeito devido a funcionários e clientes. É tempo de as autoridades governamentais -- e, especialmente, o Ministério do Trabalho e o Banco Central -- colocarem um olho mais atento no setor, a fim de modernizá-lo naquele que tem sido o seu calcanhar de aquiles: as relações humanas.


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